top of page

Vem para essa festa comigo?

  • Alessandra Liberman
  • 13 de set. de 2021
  • 4 min de leitura

As lembranças de cheiros andam me perseguindo. Junho passou e eu morri de saudade do cheiro da festa que me aproximou de meu propósito de vida. Sim, um propósito não pode ser apenas profissional. É de vida, sendo ou não remunerado, algo que naturalmente nos faz colocar nossas energias produtivas em prol do que acreditamos, com alegria. Bom, voltando àquela festa de junho. Faz mais de seis anos e eu pensava, de segunda a segunda, que desejava fazer de meus dias algo que agregasse mais à vida das pessoas. Por mais que curtisse meu trabalho, não via essa qualidade refletida em minhas ações, martelava na minha cabeça mas não sabia por onde começar. Foi quando meu marido me contou sobre uma festa junina do bairro, comunitária. Do meu jeito, sempre meio desconfiada, aceitei ao convite ... e cheguei na mais mágica festa em que já estive. Era linda e feliz. Foi numa praça do bairro (que eu nem sabia que existia) e tinha a mais linda decoração que já vi. E era todinha feita de resíduos, vulgo lixo. Tudo era voluntário, quem organizou e cuidou de todos os detalhes, quem organizou as brincadeiras, a mesa comunitária… E quem podia trazia uma comida para ser dividida, quem quisesse comia. E a música? Simplesmente Toninho Ferragutti, Antonio Nobrega e João Macacão (não conhece? Google neles, são feras) que tocavam lá para os vizinhos, e também como voluntários. Bom, curti um monte e fui conhecendo mais da festa. Trabalhei na pescaria e simplesmente toda a brincadeira foi feita com resíduos pelo pessoal do bairro. As prendas eram coisas bacanas que estavam paradas nas casas da pessoas. Conhecer tudo aquilo, viver tudo aquilo, me fez experimentar um senso de pertencimento. Tudo aquilo fazia muito sentido para mim. Fazer parte do lugar aonde moro, fazer coisas com e para as pessoas envolta. Eu não conhecia ninguém ali, mas, compartilhávamos todos, inconscientemente, os mesmos desejos, as mesmas esperanças e dos mesmos valores... Eu me deparei com o conceito Lixo Zero – nunca tinha ouvido falar – mas a festa era Lixo Zero. E vi na prática o que pode ser feito. Compreendi que a festa foi toda pensada, organizada, produzida e divulgada evitando geração de lixo, reaproveitando tudo que era possível, fazendo circular itens parados. A festa tinha uma super comunicação clara e simpática do que deveria ser jogado em cada lixeira. Tudo isso falou demais comigo. Mais que isso, me fez mudar muita coisa prática na vida e me inspirou a mergulhar – o jeito que sei fazer as coisas – no trabalho do grupo de voluntários do bairro. Resolvi então me juntar a esse grupo e participar de outras iniciativas que tinham no coração o olhar para o próximo e a sustentabilidade. Aprendi muito. Como executiva de multinacional que fui, tentei às vezes, quase sem querer [ sinto muito, vizinhos! ], impor uma gestão aprendida no mundo corporativo. Mas, dia-a-dia, fui conhecendo um jeito diferente de gestão. Uma gestão participativa, com soluções simples, regadas a comprometimento. Na qual, não é preciso cobrar quem se dispôs a fazer algo porque a pessoa, comprometida, simplesmente entrega o que combinou na reunião, sem desculpas. Diferente de toda minha trajetória até aquele momento, pratiquei o voluntariado. Comecei a praticar o conceito Lixo Zero em casa, tentei levar para escola de minha filha, na minha vida e claro, fui estudar sobre o novo e toda efervecência que estava acontecendo de idéias e práticas. Aprendi o conceito real de trabalhar em grupo, todos com o mesmo propósito e destino. Sabe aquele desejo das empresas em todos terem cabeça de dono? Então, eu vivi isso. O grupo nem sempre concorda entre si mas ruma para mesmo lugar. Uma lindeza. Aprendi novas teorias de gestão como de Laloux, quase uma maluquice para quem se formou nas teorias que me formaram até ali. Aprendi sobre inúmeros impactos da Nova Economia, Economia Circular (há 06 anos, ou até ano passado ninguém sabia muito do que se tratava, não é?), sobre Materiais e também sobre como o lixo não some depois que tiramos da nossa casa naquele saco preto, que ele tem um caminho que pode ser bem difícil e tortuoso e que muita gente vive dele. Aliás aprendi e conheci as cooperativas de resíduos e esses heróis catadores - tão anônimos para muitos mas absolutamente fundamentais nesse país. Aprendi que eu sou responsável por tudo que compro, o que e como descarto. Aprendi a substituir, mudar, reutilizar, repensar. De forma individual e em comunidade. Aprendi a olhar a cadeia toda em cada coisinha que compro, a valorizar ainda mais o simples (porque essa sempre foi minha marca). Aprendi que sem meu time aqui de casa – marido e filha - não chegaria a lugar nenhum. Que a transformação começa no indivíduo mas precisa ser de um time. Conheci gente muito bacana, profissionais experientes na área. Eu, que sempre fico na minha, me abri para o novo e acabei travando parcerias especiais. Todos com o mesmo propósito. Valores similares. Fui me deixando contaminar por um maravilhoso e estranho mundo novo. No qual eu podia ser mais eu. Uma amiga de trabalho já dizia que eu era executiva com alma hippie. Bem, não sou hippie mas liberei uma bossa da minha alma que andava escondida. Posso dizer que muita coisa mudou, comigo, com todos envolta. É tão bom compreender que é possível realizar mudanças. Porque é possível transformar, gerar essa transformação, sabe? Ainda penso se não devo virar designer (apesar de não ter talento algum…) porque acho que o design pode transformar e o mundo precisa de uma transformação urgente. Porque, cá entre nós, as propostas que vejo para 2050 são vergonhosas! É preciso mudar já. Sinto informar, regada pelos aromas de junho, de quentão, milho verde e pipoca, não temos 30 anos para mudar e fazer mudanças. Eu me mantenho ativa no tema Lixo, no meu bairro e como voluntária em diversos projetos. Continuo aprendendo, sempre. Tenho trazido cada vez mais tudo isso para o trabalho que faço como Mentora e como Consultora. Acredito que tudo é uma teia que vamos costurando e ligando os pontos para que a obra fique cada vez melhor. Esse ano não teve Festa Junina do bairro pelo Covid, mas fico feliz quando lembro das passadas e morro de saudades. Mal posso esperar para a próxima em 2022 . Junto com o time da Amélie, quero convidar você para essa e outras festas mágicas, nas quais é possível acreditar, transformar e fazer mais para vivermos num mundo diferente e melhor!


 
 
 

Comments


AMÉLIE_LOGO_BLACK_CMYK.png

Conte conosco!

Olga Martinez
Anne Hamon

Conheça nossas mídias sociais

  • Instagram
  • Preto Ícone LinkedIn
bottom of page