Você sente que pertence?
- Anne Hamon
- 1 de out. de 2021
- 2 min de leitura
Vivi metade de minha vida na França e outra metade no Brasil. E ando às voltas [ de novo! ] com a reflexão sobre a qual desses mundos tão distintos eu pertenço. Pode ser a pandemia, pode ser a idade, o fato é que ando com saudade da arquitetura francesa, dos mármores centenários, da comida, dos cheiros e de tudo o que é invisível e me faz sentir, sutilmente, que pertenço.
Curioso, claro, usar esse termo tão exclusivamente brasileiro quanto “saudade” para uma francesa sentir saudade da França. Mas assim me forjei pela vida. E aos amigos já adianto: me sinto sim pertencendo ao Brasil e nesse momento, o pertencimento anda se confundindo com a saudade. [ Ah, impermanência! ]
Lembrei da sensação das florestas francesas, de caminhar com meu pai naquela umidade curativa das plantas, em florestas abertas que são um convite para conhecê-las profundamente e que variam de acordo com as estações do ano.
Talvez seja essa sensação latente de não-pertencimento que me faça ser tão interessada na importância dos trabalhos de cultura corporativa e diversidade que temos realizado em empresas por meio da Amélie. Vira e mexe o assunto do pertencimento me assola nas reuniões. O quanto é necessário para um colaborador se sentir pertencendo à companhia para realizar o trabalho em sua melhor potência?
Ao se fazer um trabalho de diversidade os “diversos” poderão trazer à roda seus códigos de pertencimento? Como as empresas podem criar códigos de pertencimento humano no cafezinho, nas salas de reuniões e até no ZOOM?
Várias têm sido as tentativas de empresas ao criarem dinâmicas até virtuais para engajar seus colaboradores em suas culturas corporativas. São todas necessárias e válidas.
Perguntas sinceras e singelas como “o que é importante para você?”, “o que você gostaria que eu soubesse de você?” ou ainda “o que te faria se sentir bem aqui e querer permanecer?” podem ser um grandioso ponto de partida, se contarem com uma escuta realmente atenta e interessada.
Para mim, por exemplo, o pertencimento tem muito a ver com a curiosidade, o interesse e a admiração que demonstram a minha cultura e país. Sentir que ela é aceita e inspiradora. Não ouvir piadas sobre os franceses, a higiene dos franceses, o mal humor dos parisienses e ainda as imitações do sotaque.
Somos uma espécie altamente adaptável e, se precisarmos, daremos um jeito de nos modificar para existir, mas nossas raízes e essência, mesmo que precisem adormecer por um tempo, um dia acordarão de sopetão para nos perguntar sobre o sentido da existência.
Nas organizações que trabalham essa jornada complexa e linda, buscando construir contextos mais plurais, raízes diversas vão ser fincadas, conexões verdadeiras serão estabelecidas e a permanência poderá, finalmente, acontecer em um ecossistema diverso como daquelas florestas europeias que tanto me emocionam.
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